Terça feira 19h27min estou sentado na cabana seis do Praia Mole Eco Village com uma sensação de ansiedade entalada na garganta. Estamos aguardando há mais de um mês a condição favorável para realizar nossa volta a Ilha remando e as diversas alterações do tempo não nos permitiram partir apesar de toda vontade. Você deve pensar- ainda não foram? Digo-te eu penso a mesma coisa e aceito que não partimos ainda resignado. Quando decidi realizar essa aventura sabia que teria de aguardar à hora certa em que o mar se abriria para que passássemos, essa hora ainda não chegou, ele não estava de bom humor esse tempo que estamos por aqui, se quisesse não ser bem sucedido já poderia ter partido e desistido se houvesse algum imprevistos, mas quero fazer toda a volta na ilha e só nos resta aguardar a permissão divina para que façamos a nossa jornada em harmonia com o oceano.
Na semana passada uma condição de água quente e verde e ondas pequenas nos mostrou o que queremos para nossa partida, mas a falta de tempo para a virada no sul da ilha antes da entrada de um vento sul nos impediu de partir. Acabou favorecendo para completar a nossa adaptação as condições oceânicas. Havia uma lacuna em nosso treinamento realizado no lago Paranoá que precisava ser preenchida. Eu explico, remar no lago, por pior que estejam as condições não se compara ao balanço do oceano e a forma que a prancha balança nos backwash, espumas e ondulações. Depois de treinos pelos costões de fora voltados para o leste na partimos para o surf de sup nas ondas da Mole. No primeiro dia foram três caídas e varias ondas surfadas, inicialmente apanhando no equilíbrio, na colocação e movimentação da prancha. O equilíbrio na zona de arrebentação e uma boa entrada na onda de sup exigem uma boa noção de distancia e velocidade para encaixar a sua chegada remando à onda e a posição correta da prancha ao momento certo de dropar a parede.
No segundo dia uma caída com a prancha com uma só quilha me deixou mais instável, tentei surfar com outras pranchas menores, mas não me adaptei e retornei a 10´6 que me deu novamente a deliciosa sensação de dropar, cavar e correr nas paredes verdes da Praia Mole com sol e na companhia de amigos de longa data. Na sexta novamente duas caídas, já surfava as ondas manobrando a 10´6 usando o remo como pivô e voltava para o outside sem cair da prancha sentindo toda a sensação maravilhosa de surfar de pé do inicio ao final do ride. No final do dia senti uma contusão preocupante no ombro, e no sábado decidi assistir o catarinense de surf \profissional fazendo compressas de gelo, esse é o décimo ano do evento com a Okley que reuniu grandes nomes do surf profissional brasileiro.
Netuno decidiu colaborar e as ondas quebraram verdes na faixa dos três pés durante todo fim de semana. O campeonato rolou com altíssimo nível técnico e a presença de vários atletas do nordeste e sudeste que competem nos eventos da Fecasurf. Destaque para o paulista Gilmar Silva, Halley Batista e Patrick Tamberg, dois guerreiros do nordeste que fizeram bonito na Mole. Durante o evento o Floripa Surf Club inaugurou sua nova loja sede ao lado do palanque liberando a área para os atletas e seus convidados, que também utilizavam o deck que possibilitava uma visão privilegiada das ondas. No final do dia a lua cheia nasceu exuberante nos iluminando e emanando sua energia positiva sobre nós. A noite comemoramos o aniversario do Harlley com um churrasco espetacular com picanhas regadas a cerveja a galera do surf e algumas amigas gauchas e catarinenses..
Na segunda feira mais uma vez a previsão não se confirmou e não conseguimos partir na data que pretendíamos. Alem de errar a direção do vento e sua intensidade os sites divergiam totalmente em suas previsões. Isso me lembrou o I desafio No Fear de Ondas Grandes, primeiro campeonato de ondas grandes da ABRASP que organizei com alguns amigos, eu era o responsável pelo start da competição e fiquei vários meses aguardando à hora certa de fazer o evento que rolou no ultimo dia da janela de espera com a lua cheia e ondas de 10 pés na Praia da Vila em 1999. Sinto que a nossa hora de partir vai acontecer quando for à hora certa e tenho que lhes dizer que quando se vai para uma aventura você não tem hora marcada, ela acontece no seu tempo e você tem de estar disponível e preparado para quando essa hora chegar. Considero essa expedição como um caminho de Santiago de Compostella no oceano, meu foco é realizar essa odisséia e esperarei o tempo que for preciso para que Deus permita que eu atinja meu objetivo.
Grande abraço e um super agradecimento a Deus e a todos que me apoiaram e continuam apoiando nessa jornada Morroni do Clube Katanka e pranchas Starboard, Junior dos Tecidos Inteligentes Santa Constância, Marcelo da VO2 Max roupas para atletas de alto rendimento, Praia Mole Eco Village, Roger e Grazi do Floripa Surf Club, Romeu Bruno e Jet Resgate, Ari do Restaurante Beco do Pirata, Igor Viegas Produções e Vídeos, Renato Mello da Fecasurf, SPA Inner Revolution, Testa e Dudu da Wind Center, De da Barra e André Barcelos da Salva Surf, Mauricio das pranchas Bless Sports, Marcelo Batata e pranchas G zero.
Autor: Marco Antônio Gorayeb
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