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sábado, 7 de maio de 2011

Volta a Ilha SC - Diário de Bordo VI - Muita Coisa Aconteceu

Caros amigos muita coisa aconteceu aqui na Ilha durante esse tempo que não escrevi, o mar esteve agitado e aguardamos uma melhoria no tempo que estava muito instável, com ventos fortes alternando constantemente. Com a lua nova parece que o mar e o vento deram uma acalmada e tudo indica que um período com tempo mais ameno e agradável vem por ai, caso isso ocorra há uma grande chance de darmos a partida para a nossa expedição. Muita gente tem me perguntado.. E ai??/ não vai dar a volta?? Quando vocês saem??..A pergunta é simples, mas a resposta bem complexa.

Serão 125 km de remada e 70 km em mar “aberto” e não existe como remar contra um vento sul forte no oceano. Nossa estratégia é esperar um vento sul e sair no seu ultimo dia da parte interna sul , do Ribeirão da Ilha com a maré seca enchendo, tentando chegar ao Forte de Jurere. No outro dia com o vento leste/ nordeste e uma ondulação de no máximo 5 pés descer pelo costão de fora da ilha em down Wind, esperando que o vento sul chegue quando estivermos passando pela praia dos Naufragados terminando a volta no Ribeirão. Sintetizando seria como ter uma bala para matar um elefante, a decisão errada pode comprometer toda a operação e causar um fracasso por isso não haverá precipitação na tomada de decisão sobre a partida.

Na quinta feira fizemos um treino na lagoa partindo do CT do hotel ate a Wind Center e depois esticando ate o final da Avenida Osni Ortiga no porto da lagoa, Essa remada foi bem tranqüila, sem vento e bem relaxada com sol e uma leve brisa de sul. O trajeto nos proporcionou um visual da costa da lagoa ao longe. Passamos pela marina da lagoa, por baixo da ponte para o outro lado da lagoa e assistindo os carros passando alucinados enquanto cruzávamos a lagoa sem nenhuma perturbação. Remamos ate o final da Avenida Osni Ortiga e voltamos forçando o ritmo ate o hotel com a avenida das rendeiras a direita. Um treino light para relaxar e descontrair a tensão de aguardar o tempo melhorar.

Na sexta feira o vento entrou de nordeste forte e a ondulação estava na casa dos 6 pés no leste da ilha, Convidados pelo Roger fomos conhecer o novo ponto de sup do Floripa Surf Club na praia do Forte em Jurere. Ao chegarmos ao local, o restaurante do pescador Lobo, fomos recepcionados pelo seu filho Lico, o lobinho, velejador de Wind surf experiente, pescador e um verdadeiro water man da velha estirpe catarinense. O local é lindo e possibilita uma remada na condição lisa e um surf numa das melhores ondas da ilha, a direita Forte. Em vinte anos surfando na ilha já havia checado essa onda diversas vezes, mas nunca havia caído nela para surfar, pois o swell nas praias de leste estava na casa dos dois metros e ali meio metro não nos encantava. Mas de sup é diferente, apesar de menos de ter menos de meio metro de onda e vento maral havia uma condição muito boa para um surf com os Sups. Nesse local a profundidade passa de 12 para menos de 1 metro e o vento de nordeste faz a onda quebrar sempre no mesmo lugar abrindo mais de 500 metros aumentando de tamanho ao correr sobre o banco de areia. Foi possível fazer um surf mágico de sup que nos relaxou e treinou o equilíbrio sem stress.

O final de semana chegou, no sábado novo vento sul e mais um dia sem esperança de melhora nas condições para a nossa partida. No domingo finalmente um sol e um dia de praia onde pude reencontrar os amigos e suas famílias na Praia Mole, com água limpa e ondas na casa dos 4 pés. Enquanto os amigos e seus filhos se divertiam nas ondas um triste fato manchou à tarde com o afogamento e morte de um banhista quase em frente onde estávamos. Impressionante que não vimos, pois poderíamos ter tentado SALVAR A SUA VIDA.. voltamos para o hotel refletindo como o mar pode ser pai ou carrasco ao mesmo tempo, pois no mesmo local, enquanto algumas pessoas se divertiam, ao lado uma morria.

Na segunda conheci o Filipe Blanco o “reciclador peregrino”. Ele cruzou o nosso caminho aqui em Florianópolis aparecendo no CT do Floripa Surf Club depois de entregar uma prancha de Sup reciclada para o remador e web designer Araguaci. Filipe me surpreendeu com seu trabalho e suas idéias. A prancha tamanho 9´0 round pin, com largura de 31´ tinha um outline interessante com uma boa laminação e pintura personalizada. Foi feita de uma forma totalmente inusitada, pois ele colou restos de blocos de isopor que sobraram do corte feito para a produção de outras pranchas. Colando pedaço por pedaço como num mosaico ele revolucionou o reuso de um resíduo da fabricação de pranchas que era lançado fora muitas vezes no ambiente. Alem disso ele descende de uma família de recicladores e reutilizadores, seu avo coletava materiais e os revendia em seu comercio baseado na reciclagem e reuso, seu pai trabalha nos dias de hoje com um modelo de comercio semelhante vendendo materiais abandonados ou resíduos industriais que podem ser reutilizados mostrando que a tradição já vem de família.

Ao terminar o dia decidimos fazer um surf de sup na Praia Mole, mas quando amarrávamos as pranchas no carro um vento sul entrou forte, decidimos mudar o roteiro e partir remando pelo canal ate a barra e la tentar fazer um surf. Filipe e a esposa do Roger, a Grazi, foram filmando e fotografando nossa remada pelo percurso ate o mar, a luz e o sul estavam maravilhosos e ao sair no mar decidi esticar a remada ate a ponta do rapa, o final do costão da Barra. O mar estava tranqüilo e o vento sul que havia entrado havia se transformado num noroeste a ondulação baixa e a falta de vento forte deixavam a remada bem tranqüila. Voltando ao encontro do Roger ele me disse que teríamos de partir em direção a praia mole, pois o resgate seria la. O problema e que já eram 5:30 da tarde e o vento sul estava na eminência de entrar. Remamos colados ao costão com o velho balanço de todas as direções transformando a remada num treino excepcional, a possibilidade de escurecer e da entrada do vento sul aumentava a adrenalina. Cravamos o remo ate a praia mole passando por um grupo de pescadores na ponta da pedra da galheta e um barco fazendo um cerco com uma rede.

A sensação de remar no mar é divina, ao nos aproximarmos da praia mole agradeci a Deus por estar ali e por toda a sua gloria ao criar um lugar tão lindo. Os costões formados por pedras gigantes de cores diferentes e misturadas são indescritíveis em toda a sua beleza e grandiosidade. O mar balançando nos forçava a manter um ritmo forte e de remada e um equilíbrio apurado para não cair e perder energia e força que poderíamos precisar caso o vento sul entrasse forte de frente na nossa remada. O mar ao longe escurecendo com a luz meio avermelhada do sol se pondo nos dava a sensação de estarmos num paraíso distante, mas estávamos numa cidade que esta se tornando grande e tumultuada como tantas outras que se transformaram de um local lindo num inferno urbano.

Chegamos anoitecendo na praia e a sensação de amor ao mar e de agradecimento por poder fazer essa remada no mar em total sintonia foi intensa em todos. Parece que a lua nova que entrou mudou o tempo e vendo a previsão existe uma grande chance de acontecer uma janela favorável ate o inicio da próxima semana... aloha e aguardem mais novidades…

Autor: Marco Antônio Gorayeb

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